Programa do PSOL
Segue abaixo o programa aprovado no Encontro Nacional de fundação do
P-SOL, realizado nos dias 05 e 06 de junho em Brasília. Com esta
plataforma programática começamos a construir nosso partido e
inauguramos uma nova etapa na elaboração programática do partido que
culminará no primeiro Congresso do P-SOL. Neste sentido, os relatórios
aprovados nos grupos abrirão a tribuna de debates desta construção
programática coletiva que apenas começa. Nos próximos dias o site estará
disponível para receber as contribuições que com certeza enriquecerão o
debate e permitirão que nosso programa seja construído pela experiência
viva dos movimentos sociais e dos seus protagonistas.
Introdução
Este programa estabelece um ponto de partida para a construção de um
projeto estratégico, capaz de dar conta das enormes demandas históricas e
concretas dos trabalhadores e dos excluídos do nosso país.
Não se trata, portanto, da imposição de uma receita pré-estabelecida,
hermética, fechada, imune às mudanças na realidade objetiva e a
experiência viva das lutas sociais do nosso povo. Pois definir seus
balizadores iniciais de estratégia e de princípio não significa
estabelecer qualquer restrição a constantes atualizações, para melhor
compreender e representar as novas demandas populares.
Nessa perspectiva de caminhos novos para a discussão de um projeto
socialista, a necessidade da construção de um partido de novo tipo se
afirma de forma cada vez mais clara. É uma necessidade objetiva para
aqueles que, nos últimos vinte anos, construíram uma concepção combativa
de PT, e lhe deram a extraordinária possibilidade de abrir as portas
para um Brasil sem miséria e sem exploração, mas que viram suas lutas,
seus sonhos e expectativas traídas.
A ruptura com o PT começou pelos servidores federais, seguida de
amplos setores intelectuais, de segmentos da juventude e de uma
significativa parcela da população, fragmentada na rebeldia, mas
localizada na quase totalidade de pesquisas de opinião realizadas.
Criou-se, assim, um novo e histórico momento para o país e para a
esquerda socialista que mantém de pé as bandeiras históricas das classes
trabalhadoras e oprimidas. Na medida em que o governo Lula acelera a
rota para o precipício, abre-se um caminho para uma alternativa de
esquerda conseqüente, socialista e democrática, com capacidade de atrair
e influenciar setores de massas, e oferecer um canal positivo para os
que acreditam em um outro Brasil.
Parte I – Bases do programa estratégico
1) Socialismo com democracia, como princípio estratégico na superação da ordem capitalista.
O sistema capitalista imperialista mundial está conduzindo a
humanidade a uma crise global. A destruição da natureza, as guerras, a
especulação financeira, o aumento da superexploração do trabalho e da
miséria são suas conseqüências. Sob o atual sistema, o avanço da ciência
e da técnica só conduz a uma mais acelerada concentração de riquezas. A
agressiva busca do controle estratégico dos recursos energéticos do
planeta está levando à própria devastação destes recursos. A lógica
egoísta e destrutiva da produção, condicionada exclusivamente ao lucro,
ameaça a existência de qualquer forma de vida.
Assim, a defesa do socialismo com liberdade e democracia deve ser
encarada como uma perspectiva estratégica e de princípios. Não podemos
prever as condições e circunstâncias que efetivarão uma ruptura
sistêmica. Mas como militantes conscientes que querem resgatar a
esperança de dias melhores, sustentamos que uma sociedade radicalmente
diferente, somente pode ser construída no estímulo à mobilização e
auto-organização independente dos trabalhadores e de todos os movimentos
sociais.
O essencial é ter como permanente a idéia de que não se pode propor
essa outra sociedade construída sem o controle dos próprios atores e
sujeitos da auto-emancipação. Não há partido ou programa, por mais bem
intencionado que seja, que os substituam. Uma alternativa global para o
país deve ser construída via um intenso processo de acumulação de forças
e somente pode ser conquistada com um enfrentamento revolucionário
contra a ordem capitalista estabelecida. Nesta perspectiva é fundamental
impulsionar, especialmente durante os processos de luta, o
desenvolvimento de organismos de auto-organização da classe
trabalhadora, verdadeiros organismos de contra-poder.
O desafio posto, portanto, é de refundar a idéia e a estratégia do
socialismo no imaginário de milhões de homens e mulheres, reconstruindo a
idéia elementar – mas desconstruída pelas experiências totalitárias dos
regimes stalinistas e as capitulações à ordem no estilo da 3ª via
social-democrata – de que o socialismo é indissociável da democracia e
da liberdade, da mais ampla liberdade de expressão e organização, da
rejeição aos modelos de partido único. Enfim, de que um projeto de
emancipação social dos explorados e oprimidos nas condições atuais é um
verdadeiro projeto de emancipação da civilização humana, de defesa da
vida diante das forças brutais de destruição acumuladas pelo capitalismo
imperialista.
A defesa do socialismo, finalmente, não é apenas a defesa das
reivindicações dos trabalhadores melhor organizados, mas a conseqüente
busca de incorporação das reivindicações e lutas de todos os setores
oprimidos. A luta pelo socialismo é também a luta contra todas as
opressões, injustiças e barbáries cotidianas.
2) Não há soberania, nem uma verdadeira independência nacional, sem romper com a dominação imperialista.
O capital financeiro-imperialista não se limita à sangria do
pagamento da dívida e dos ajustes impostos pelo FMI. Pretende impor,
agora, com os acordos em negociação (caso concreto da ALCA), as
condições para um aumento maior da exploração, com a resultante
dilapidação dos nossos recursos naturais e energéticos. A Amazônia é um
alvo concreto. O controle da sua biodiversidade, através das “leis de
patentes”, e a devastação florestal em busca dos minérios, ou na lógica
do agro-negócio, são parte dessa ofensiva. Outro alvo das multinacionais
são as bacias da Petrobrás.
Um programa alternativo para o país tem que ter nas suas bases
fundadoras o horizonte da ruptura com o imperialismo e suas formas de
dominação. O Brasil precisa de uma verdadeira independência nacional. E
ela só é possível com uma rejeição explícita à dominação imperial.
3) Rechaçar a conciliação de classes e apoiar as lutas dos trabalhadores.
Nossa base programática não pode deixar de se pautar num principio: o
resgate da independência política dos trabalhadores e excluídos. Não
estamos formando um novo partido para estimular a conciliação de
classes. Nossas alianças para construir um projeto alternativo têm que
ser as que busquem soldar a unidade entre todos os setores do povo
trabalhador – todos os trabalhadores, os que estão desempregados, com os
movimentos populares, com os trabalhadores do campo, sem-terra,
pequenos agricultores, com as classes médias urbanas, nas profissões
liberais, na academia, nos setores formadores de opinião, cada vez mais
dilapidadas pelo capital financeiro, como vimos recentemente no caso
argentino. São estas alianças que vão permitir a construção da
auto-organização independente e do poder alternativo popular, para além
dos limites da ordem capitalista. Por isso, nosso partido rejeita os
governos comuns com a classe dominante.
4) Reivindicações para a luta imediata e bandeiras históricas para além da ordem.
A defesa de melhores salários, o combate contra o desemprego e contra
a corrupção, a luta pela reforma agrária, a luta por uma reforma
tributária que taxe o grande capital, a luta pela reforma urbana são
alguns exemplos de reformas verdadeiramente prementes, que devemos
defender com a compreensão de que elas não se realizam plenamente nos
parâmetros do sistema capitalista.
5) A defesa de um internacionalismo ativo.
São tempos de agressão militar indiscriminada do imperialismo. Os EUA
se destacam como país agressor, que agora chefia a ocupação do Iraque,
intervém na Colômbia, no Haiti, promove tentativas de golpes na
Venezuela e apóia o terrorismo de Estado, de Israel contra os
palestinos. A retomada do internacionalismo é objetivo do novo partido.
Para além do nosso continente, temos que empenhar todo o esforço no
apoio ao movimento anti-globalização, com seus fóruns sociais e suas
mobilizações de massas iniciadas a partir de Seattle.
No caso das sistemáticas agressões, guerras de ocupação das grandes
potências capitalistas, como no caso do Iraque, devemos levantar de
forma inequívoca a auto-determinação dos povos e contra qualquer tipo de
intervenção militar.
Parte II – Bases de análise e caracterizações
1) Aumenta a exploração do Brasil e da América Latina.
O caráter parasitário do sistema capitalista se faz mais evidente na
atual fase da economia mundial. Somente uma parte do capital é
mobilizado para adquirir matérias primas, ampliação de recursos humanos e
investimentos, renovação de equipamentos produtivos. Sua maior parte se
destina a especular sobre o valor futuro da produção, utilizando-se dos
mais variados instrumentos especulativos, seja o câmbio das moedas, a
dívida pública, a sobrevalorização dos terrenos, as ações das empresas e
dos mercados futuros e os investimentos em tecnologia.
O atual regime financeirizado exige um grau bastante elevado de
liberalização e desregulamentação das economias nacionais. E, por conta
de dívidas externas nunca auditadas, impõe processos de privatização.
Acordos como a ALCA e a propriedade intelectual também são fatores de
aumento da exploração.
Por conta de benesses tributárias, tais como isenção de remessa de
lucros e dividendos para suas matrizes, grandes corporações
multinacionais já se apropriaram de mais da metade do capital de toda a
indústria instalada no Brasil. Dominam diretamente 1/3 da indústria
básica (petróleo, siderurgia, petroquímica, papel e celulose,
agroindústria), mais de 80% da indústria difusora de tecnologia
(aeronáutica, química fina, eletrônica) e metade de setores tradicionais
da indústria nacional (bebidas, têxtil, alimentos, calçados). No setor
de serviços aconteceu o mesmo, com a desnacionalização dos bancos, dos
serviços de infraestrutura (como energia e telecomunicações) e até do
comércio.
O mecanismo da dívida externa segue sendo fundamental neste processo
de exploração e de domínio do imperialismo sobre o Brasil. Dos contratos
de endividamento externo, disponíveis no Senado Federal, cerca de 92%
deles têm cláusulas que permitem ao credor elevar as taxas de juros.
Além disso, 49,5% dos contratos renunciam expressamente à soberania,
indicando um foro estrangeiro para solucionar controvérsias. Por último,
38,36% dos documentos vinculam o recebimento do dinheiro à realização
de programas do FMI ou do Banco Mundial, assim como 34,24% deles impedem
o Brasil de controlar a saída de capitais.
2) A classe dominante brasileira é sócia da dominação imperialista.
A grande burguesia brasileira é sócia da dominação imperialista.
Enquanto no Brasil mais de 50 milhões sofrem com a fome, apenas 5 mil
famílias concentram um patrimônio equivalente a 46% da riqueza gerada
por ano no país (PIB). Por sua vez os 50% mais pobres, isto é, 39
milhões de trabalhadores, detêm apenas 15% da renda nacional. Enquanto
isso, os capitalistas brasileiros seguem especulando com os títulos
brasileiros no exterior e mantém bilhões de dólares nas suas contas nas
ilhas Cayman, nas Bahamas, nas ilhas Virgens e em depósitos nos EUA.
Registrado legalmente no Banco Central, no final de 2002, havia US$ 72,3
bilhões de capitais investidos no exterior de residentes no Brasil. A
ampla desnacionalização na indústria e no próprio sistema financeiro
nacional — ocorrida nos anos 90 através de fusões e aquisições – foi
aceita sem resistência séria de setores da classe dominante nacional;
sob a aplicação do modelo neoliberal ficou evidente a incapacidade da
classe dominante brasileira e suas oligarquias setoriais e regionais de
opor qualquer resistência séria à dominação do capital financeiro.
3) Governo Lula: guinada doutrinária a serviço do capital.
A vitória de Luis Inácio Lula da Silva foi uma rejeição do modelo
neoliberal lançado no governo Collor, mas consolidado organicamente nos
dois mandatos de FHC. Seus 52 milhões de votos eram a base consistente
para uma nova trajetória governamental.
Seu governo, no entanto, foi a negação dessa expectativa. Depois de
quatro disputas, Lula entregou-se aos antigos adversários, e voltou as
costas às suas combativas bases sociais históricas. Transformou-se num
agente na defesa dos interesses do grande capital financeiro. Na esteira
dessa guinada ideológica do governo, o Partido dos Trabalhadores foi
transformado em correia de transmissão das decisões da Esplanada dos
ministérios.
Parte III – Um programa de ação, de reivindicações dos
trabalhadores e do povo pobre e medidas democráticas, anticapitalistas e
antiimperialistas
Ainda que nos marcos de um programa provisório, uma primeira
plataforma de ação deve ser capaz de sintetizar e concretizar, não um
simples enunciado de palavras-de-ordem, mas a articulação das
reivindicações dos trabalhadores e do povo com a necessária ruptura com o
FMI, com a dívida externa e Alca, bem como sua ligação à mudança do
regime social e a conquista de um governo dos trabalhadores e das
classes populares exploradas e oprimidas no capitalismo.
O caminho da luta, da mobilização direta, do apoio às greves pelas
reivindicações é o caminho central por onde passa a defesa por melhores
salários, o direito ao trabalho, à terra, e para enfrentar os ataques do
imperialismo, dos capitalistas e seus governos. Por isso, estamos pela
defesa e o apoio às lutas dos trabalhadores, desempregados, camelôs, sem
teto, sem terra.
1) Redução imediata da
jornada de trabalho para 40 horas, sem redução dos salários. Progresso
tecnológico a serviço da criação de postos de trabalho.
Mais de um milhão de trabalhadores perderam o emprego em 2003. A
crise do desemprego foi transformada numa crise estrutural. É
fundamental o combate contra a generalização das horas extras e a
redução da carga horária para 40 horas semanais, rumo à jornada de 36
horas.
Denunciamos também toda e qualquer tentativa de demissões e redução
dos salários com o pretexto da falta de trabalho. Diante das reclamações
da patronal acerca das suas dificuldades, defendemos que suas contas
sejam abertas e o controle da produção se estabeleça.
Defendemos também a luta dos desempregados e dos trabalhadores da
economia informal. Contra a repressão aos ambulantes e pela defesa das
cooperativas dos trabalhadores.
2) Abaixo o arrocho nos
salários. Reposição mensal da inflação. Recuperação efetiva do salário
mínimo. Aumento real dos salários.
Como via de acesso a um incremento produtivo mantendo o mercado
interno comprimido, os juros elevados e o ajuste fiscal garantido, o
governo federal aposta todas as fichas nas exportações. Este tem sido o
plano fundamental dos capitalistas no Brasil. Mas para que os
capitalistas brasileiros exportem, competindo com outros burgueses,
devem manter seus produtos baratos. Para isso, continuarão pagando
salários de fome aos trabalhadores da cidade e do campo. É o que os
grandes empresários consideram uma vantagem comparativa brasileira.
Sem recomposição dos salários, não há distribuição de renda efetiva.
Defendemos a reposição mensal da inflação e aumentos reais para os
salários. Defendemos que os salários sejam capazes de garantir o mínimo
necessário para o trabalhador e sua família, tal como diz a
Constituição. O controle sobre a produção das grandes empresas mostrará
os lucros capitalistas e as possibilidades de aumentos.
3) Reforma agrária, essa
luta é nossa. Terra para quem nela trabalha e quer trabalhar. Apoio ao
MST, MTL, CPT e todas as lutas pelas reivindicações camponesas. Prisão
para os latifundiários que armam suas milícias contra o povo.
Há 12 milhões de trabalhadores rurais sem-terra no Brasil. O esforço
exportador da política do governo federal tem sido centrado no
agro-negócio, cópia do modelo FHC. Neste modelo exportador não há lugar
para a reforma agrária, para o assentamento digno do homem no campo.
Cerca de 56% das terras brasileiras estão nas mãos de 3,5% dos
proprietários rurais.
Para os pequenos agricultores, para agricultura familiar e para as
cooperativas só há um lugar totalmente subordinado, não de uma política
de estímulo e de crédito pesado para a produção ao mercado interno.
Em suma, para conseguir algum avanço, aos camponeses e trabalhadores
rurais sem-terra o único caminho tem sido o da mobilização, das
ocupações de terra, bloqueio de estradas, ocupação de prédios públicos.
Nestas lutas, porém, os trabalhadores têm contra si a impunidade dos
latifundiários. Temos visto à luz do dia a ação das brigadas
paramilitares dos latifundiários e a repressão aos sem-terra. Defendemos
as ocupações e ações de luta dos sem-terra. porque somente dessa forma
será possível garantir uma reforma agrária verdadeira. Somente com uma
reforma agrária desta natureza se pode garantir a produção para o
mercado interno e acumular poupança no campo. Mas para tanto não existe
saída para o campo brasileiro sem a expropriação das grandes fazendas,
sejam elas produtivas ou não.
O apoio com crédito, pesquisa tecnológica, preço justo, são da mesma
forma peças fundamentais para uma política de autêntica reforma agrária.
4) Por uma ampla reforma urbana. Moradia digna com condições dignas para todos.
Milhões de famílias vivem em áreas de risco, não apenas devido a
enchentes e desabamentos. Há milhões que estão no dia a dia vivendo em
péssimas condições, sem acesso a água, sem saúde, com transporte
precário e esgotos a céu aberto. Mesmo levando em conta a possibilidade
de melhorias nestas sub moradias, seriam necessárias mais de seis
milhões e seiscentos mil moradias para combater o déficit habitacional
do país.
Defendemos a mobilização dos sem-teto e dos movimentos populares por
moradia. Somos a favor de uma ampla reforma urbana, que tenha na raiz o
combate à vergonhosa especulação imobiliária.
5) Inverter radicalmente os gastos públicos para saúde, educação e infraestrutura.
O superávit fiscal do governo, que exclui o pagamento dos juros, foi o
maior da história. Chegou a R$ 66,12 bilhões, o equivalente a 4,3% do
PIB, maior, portanto, do que o acordado com o FMI, cuja meta era de
4,25% do PIB, ou seja, R$ 65 bilhões. Esta economia de recursos visando o
pagamento da dívida, foi a essência da política do governo para dar
confiança aos “mercados”, isto é, aos bancos e detentores dos títulos
públicos. Além disso, a DRU — Desvinculação de Receitas da União —
desvia bilhões do orçamento constitucionalmente garantido para a
educação e saúde, para engordar o superávit primário.
É preciso investir pesadamente em infraestrutura, nas estradas, cada
vez mais abandonadas, em energia, num país onde tivemos o apagão por
falta de investimentos.
No campo da saúde pública, é necessário alçar essa política à
prioritária, de modo que os recursos para ela dirigidos sejam
suficientes para atender as necessidades de saúde da população. Basta de
hospitais para ricos e hospitais para pobres! É necessária uma medicina
gratuita e eficiente para todos.
Os investimentos públicos devem ser pesados na educação em todos os
níveis, garantindo a alfabetização de toda a população e acesso às
universidades.
6) Ruptura com o FMI. Não ao
pagamento da dívida externa. Não a ALCA. Auditoria da dívida externa e
da dívida interna. Desmontagem e anulação da dívida interna com os
bancos. Controle de câmbio e de capitais. Por um plano econômico
alternativo.
Os trabalhadores brasileiros não podem mais seguir pagando por uma
dívida que não contraíram e nem os beneficiou. Se incluirmos a dívida
interna com os grandes bancos, os gastos do setor público somente com o
pagamento dos juros da dívida atingiram ao fim do primeiro ano do
governo Lula R$ 145,2 bilhões, o que corresponde a 9,49% do PIB. Dois
meses de pagamento dos juros equivalem ao gasto anual com o Sistema
Único de Saúde. Dez dias de juros superam as verbas anuais do Programa
Bolsa-Família. Uma montanha de recursos drenados para o cassino
financeiro, superior inclusive a 2002, quando os juros pagos foram de R$
114 bilhões, ou 8,47% do PIB. Por sua vez, o endividamento externo se
aprofunda e atinge hoje quase US$ 220 bilhões de dólares.
É preciso romper essa lógica. Centralizar o câmbio e controlar a
saída de capitais. É preciso dizer não ao FMI e ao acordo da ALCA —
projeto de anexação do Brasil –, encabeçando um chamado pela
constituição de uma frente dos países devedores. Em relação à dívida
interna é preciso fazer uma auditagem da dívida, desmontar sua
composição interna, anular a dívida com os bancos e preservar os
pequenos e médios poupadores.
Assim, nosso programa resgata a decisão do tribunal da dívida externa
realizado de 26 a 28 de abril de 1999, no Rio de Janeiro. Neste
tribunal foi assumido um veredicto claro: a dívida externa brasileira,
por ter sido constituída fora dos marcos legais nacionais, sem consulta
ao povo e por ferir a soberania é injusta e insustentável, ética,
jurídica e politicamente. Assumimos também o resultado do plebiscito
realizado nos dias 2 a 7 de setembro de 2002, quando 94% de um total de
mais de seis milhões de eleitores, sem campanhas na mídia e sem voto
obrigatório, votaram soberanamente e definiram seu repúdio ao pagamento
da dívida externa sem a realização prévia de uma auditoria pública. Um
número também expressivo repudiou também o uso de grande parte do
orçamento público para pagar a dívida interna aos especuladores.
7) Abaixo as reformas reacionárias e neoliberais. Por reformas populares.
Desde Collor, FHC e agora Lula, os governos aplicam reformas (na
verdade, contra-reformas), a serviço do Fundo Monetário e do Banco
Mundial, como a reforma da Previdência que privatiza a Previdência
pública, entregando-a aos banqueiros. Já aprovaram também, com o apoio
do Congresso Nacional, a “Lei de Falências” que tem como prioridade a
“garantia dos direitos dos credores”. Ou seja, o direito dos bancos em
detrimento do direito dos trabalhadores.
A próxima é a reforma universitária, que vai aprofundar o
sucateamento e a privatização branca das universidades públicas,
conforme os interesses do Banco Mundial.
Finalmente, estão preparando a reforma sindical e trabalhista, com o
claro objetivo de flexibilizar os poucos direitos ainda assegurados em
lei, dando às cúpulas das centrais o poder de negociar tudo, à revelia
da base.
Somos contras as reformas neoliberais. Somos a favor de reformas que
sejam para melhorar a vida da maioria do povo, como a reforma agrária e a
reforma urbana.
Temos a necessidade também de uma profunda reforma tributária, que
inverta a atual lógica que faz os impostos pesarem fundamentalmente
sobre o trabalho e o consumo, e não sobre a riqueza e a propriedade,
fazendo com que quem ganha menos pague proporcionalmente muito mais
imposto do que quem ganha mais.
Defendemos a taxação das grandes fortunas, pesados impostos sobre os
mais ricos e alívio da carga tributária sobre a classe média e os
pobres.
Abaixo as privatizações. Estatização das empresas privatizadas. Expropriação dos grandes grupos monopólicos capitalistas.
No Brasil de FHC a captação de dólares foi garantida pelas
privatizações. Embora estas tenham perdido fôlego, não foram
definitivamente enterradas, como atesta a carta compromisso do governo
Lula e do FMI para privatizar quatro bancos estaduais, concretizada já
no caso do Banco do Estado do Maranhão, comprado em fevereiro pelo
Bradesco.
O balanço das privatizações durante o governo FHC mostra que
tratou-se de entrega de patrimônio. O resultado financeiro das
privatizações foi o seguinte: arrecadação de R$ 85,2 bilhões e gastos de
87,6 bilhões.
O governo brasileiro ficou sem as empresas e teve um prejuízo líquido
de pelo menos R$ 2,4 bilhões com a entrega do patrimônio público para
grandes empresas privadas. .
É preciso reverter este verdadeiro saque à Nação, começando pela reestatização das empresas privatizadas.
Mais do que isso, é preciso reorganizar o conjunto da vida econômica e
social do país. Não é possível a produção ser destinada para o lucro em
detrimento das necessidades da população. Uma minoria – latifundiários,
especuladores, capitalistas e banqueiros – comanda o trabalho dos
demais porque detém o controle dos meios de produção: os latifundiários
controlam a terra; os capitalistas, os instrumentos de trabalho; os
banqueiros, os recursos financeiros. Por isso, eles comandam a vida de
todos os que, para trabalhar, precisam ter acesso a terra, instrumentos e
recursos. Basta. A sociedade não pode organizar-se em torno do
princípio da solidariedade e da igualdade produzir segundo as
necessidades da população sem a expropriação desta minoria e o controle
da sociedade sobre os grandes meios de produção e de crédito.
9) Confisco dos bens e prisão dos corruptos e sonegadores.
Há várias fontes de corrupção. As privatizações, a frouxidão no
controle dos fluxos de capitais, facilitando e potencializando as
remessas ilegais e a lavagem de dinheiro do crime. A não aprovação do
financiamento público das campanhas eleitorais tem sido fator extra de
relações de troca de favores entre os políticos que aceitam o
financiamento privado das grandes empresas e seus financiadores. Temos
também a corrupção no poder judiciário, político, policial. O governo do
PT não tem mudado nada disso, como ficou evidente na operação abafa no
caso Waldomiro-CPI. dos bingos.
Defendemos a investigação e punição dos escândalos de sonegação e corrupção – CPI´s e comissões independentes de investigação.
Os crimes do colarinho branco engrossam a lista da impunidade. Por
isso não aceitamos os privilégios que FHC garantiu para si e para o qual
teve o acordo do atual presidente Lula. Trata-se do Foro privilegiado
para os presidentes da República não serem julgados depois de encerrados
seus mandatos.
10) Contras as burocracias
sindicais. Democracia nos sindicatos e nos movimentos sociais. Autonomia
e independência frente ao Estado, governo e patrões.
Para impulsionar tanto as lutas imediatas quanto a construção de uma
estratégia socialista, será fundamental combater as direções
oportunistas que querem conciliar com a classe dominante e se submeter a
seus interesses. Sempre vamos defender o princípio básico de que os
trabalhadores devem confiar apenas na força da sua luta e organização
independente. Os sindicatos viveram um longo processo de burocratização
nos anos 90. Cresceram as burocracias sindicais – como a Força Sindical e
a maioria da direção da CUT.
Nós defendemos a mais ampla unidade de ação com todos que queiram
lutar pelas reivindicações e não aceitam o caminho da entrega de
direitos da classe trabalhadora. Defendemos a luta coordenada entre
sindicatos, associações de moradores, pela construção de movimentos e
fóruns de luta comum por reivindicações concretas. Defendemos a
democracia nos sindicatos e em todas as organizações dos trabalhadores,
defendemos a autonomia e a completa independência das entidades dos
trabalhadores do governo, do Estado e dos patrões.
11) Democratização dos meios de comunicação.
O chamado “quarto poder” não pode ser monopólio privado capitalista.
Atualmente, as concessões de rádio e TV são feitas à políticos e
empresários amigos dos donos do poder econômico e político. Temos
conglomerados capitalistas controlando e manipulando a informação.
Defendemos a democratização radical dos meios de comunicação, portanto o
fim das concessões de rádios e TVs como estão sendo feitas atualmente.
Com a comunidade cultural do país é preciso reorganizar os meios de
comunicação; é preciso um novo sistema de comunicação no qual a
comunidade cultural, os jornalistas, os educadores articulem com os
movimentos sociais e o povo organizado uma efetiva participação e
democratização da informação e acesso à cultura. Os movimentos sociais
não podem ser marginalizados dos meios de comunicação. Defendemos as
rádios comunitárias e sua legalização.
12) Contra a insegurança e pelo direito a vida.
O Estado brasileiro não garante o mais elementar direito à vida e à
segurança. As instituições que segundo a Constituição e as leis servem
para proteger o povo — a polícia, a justiça, o sistema penitenciário e o
poder político — estão infestadas de máfias e corruptos. A corrupção
policial é avalizada pelo poder judiciário que é protegido pelo poder
político. É preciso desmantelar toda esta estrutura se queremos o mínimo
de segurança. É fundamental a democratização das forças policiais e em
particular do Exército, com o direito a livre organização política das
tropas, com direito das tropas elegerem seus próprios comandantes; com
direito de promoção, sem limites para a baixa oficialidade. O novo
partido elaborará uma plataforma específica sobre esta questão
fundamental com a participação de todos os seus militantes deste setor e
com os movimentos sociais dedicados ao assunto. Da mesma forma será
elaborado o programa sobre os direitos humanos, partindo de alguns
princípios: Contra a impunidade dos assassinatos que atingem os
movimentos populares no campo e na cidade, bem como as populações
pobres. Contra a tortura praticada sistematicamente nas dependências
policiais. Contra a criminalização dos movimentos sociais. Pelo direito à
verdade histórica e à abertura dos arquivos do Exército sobre a
guerrilha do Araguaia.
13) Pela preservação do meio ambiente.
A construção de um ideário de superação do processo capitalista reúne
hoje, além dos tradicionais pressupostos socialistas, um grande impulso
ainda mais vital ligado à questão ecológica. Esse fator pode contribuir
decisivamente na reorganização dos trabalhadores internacionalmente.
Tendo claro que as forças de destruição irracionais acumuladas pelo
sistema ameaçam o conjunto da humanidade e da vida no planeta, de tal
forma que a luta contra o capitalismo significa a luta em defesa da
ecologia, do meio ambiente e da vida, o novo partido elaborará sua
plataforma ecológica com a intervenção direta do movimento ecológico nos
próximos meses.
14) Combate ao racismo e contra a opressão dos negros.
A escravidão terminou como modo de produção – embora vergonhosamente
tenhamos ainda no Brasil ilegalmente algumas áreas de trabalho escravo
-, mas o racismo continua e os negros e as negras são os mais explorados
e discriminados dos trabalhadores e do povo. Recebem menores salários
do que os brancos; são os mais pobres, com menor acesso à escola e
possibilidades de emprego. Chamamos o combate sem tréguas ao racismo, a
toda e qualquer discriminação e repressão. Denunciamos como vendedores
de ilusão e como pretensos defensores da luta do movimento negro aqueles
que defendem a possibilidade de integração e de igualdade racial no
capitalismo brasileiro. O movimento negro do novo partido irá discutir o
programa necessário para enfrentar de modo eficaz esta luta.
15) Em defesa dos direitos das mulheres. Pela emancipação das mulheres.
Além das relações de classe, as mulheres estão submetidas a relações
de opressão de sexo, que se reproduzem numa rígida divisão de trabalho e
de papéis. As lutas feministas conquistaram muito nas últimas décadas.
Há, entretanto, um longo caminho a percorrer na luta pela emancipação da
mulher. A igualdade garantida em lei não se traduz na vida real. As
mulheres vivem a dupla jornada de trabalho. São a maioria esmagadora nos
subempregos e postos mais baixos na escala salarial e ainda recebem
menos por trabalho igual ao dos homens. Defendemos o fim da
discriminação sexual no trabalho, salário igual para função igual. Cada
vez mais as mulheres assumem o posto de chefes de família, recaindo
sempre sobre elas o cuidado com os filhos. As políticas públicas devem
levar em conta esta realidade, priorizando, por exemplo, as mulheres nos
programas habitacionais e de geração de emprego, bem como garantindo a
existência de creches públicas nos locais de trabalho e estudo.
A violência é um dramático problema que atinge a população feminina.
No trabalho são vítimas do assédio e abuso sexual, ameaçadas de perder o
emprego se não cederam aos desejos de seus chefes. A cada minuto 3
mulheres são agredidas, 70% destas agressões ocorrem dentro de casa e a
maioria das vítimas são mulheres pobres. Exigimos cadeia aos agressores,
casas-abrigo para as mulheres vítimas da violência doméstica e punição
ao assédio e ao abuso sexual. Nosso partido combate o machismo e a
discriminação sexual, colocando-se na linha de frente da luta
feminista. O movimento de mulheres do novo partido construirá ele mesmo
o programa que impulsione este combate.
16) A luta da juventude é, no presente, a luta pelo futuro.
A luta da juventude é decisiva. Há demandas claras do novo partido.
Emprego para a juvengude. Por uma escola pública, gratuita, laica,
democrática e de qualidade. Abaixo a repressão a juventude. Pelo direito
a cultura e ao lazer. Os militantes jovens do novo partido já começaram
a construir a juventude do partido e escreverão eles mesmos seu
programa.
17) Em defesa das minorias nacionais.
O Brasil se formou na esteira do genocídio indígena. Uma formação,
portanto, desde o início baseada na opressão da maioria dos seus
habitantes. O genocídio, porém, não terminou com o índio brasileiro.
Numa sociedade com socialismo e democracia também os povos indígenas
poderão recuperar e desenvolver sua cultura, o que tem sido cada vez
mais difícil no atual sistema. Atualmente, são mais de 370 mil pessoas
indígenas, 210 etnias e 170 línguas faladas identificadas. A defesa das
terras e da cultura indígena é uma bandeira permanente do nosso partido,
bandeira impulsionada por outras nações e povos indígenas em toda a
América Latina e que faz parte fundamental da luta pela autodeterminação
nacional.
18) Em defesa dos aposentados e idosos!
Milhões de trabalhadores chegam à velhice sem direito à aposentadoria
e, portanto, sem nenhuma garantia de renda que lhes permita viver
dignamente. Isso é resultado da permanência – e hoje crescimento – da
informalidade das relações de trabalho. É urgente garantir a todos,
independentemente de sua capacidade contributiva, uma renda para o
momento da velhice.
Ao mesmo tempo, os trabalhadores que se aposentam, em sua grande
maioria recebem aposentadorias baixíssimas, insuficientes para suas
necessidades com saúde, moradia, alimentação. É preciso garantir
condições dignas de vida para estes trabalhadores que durante anos
produziram a riqueza do país.
Corrigir as injustiças e lutar para que sejam revistos e anulados os
ataques aos aposentados executados nas reformas previdenciárias é parte
das nossas bandeiras. Rejeitamos também a desvinculação do reajuste do
salário mínimo do reajuste das aposentadorias. Por uma aposentadoria
digna para todos.
19) Pela livre expressão sexual.
A perseguição à livre expressão sexual é uma constante que se
expressa no trabalho, em locais públicos, no lazer. A repressão policial
é uma constante contra lésbicas, bissexuais, gays, travestis,
transexuais. A luta pelo direito a livre orientação sexual é uma luta
nossa.
As mobilizações de centenas de milhares de pessoas em todo o país
durante as chamadas paradas gays, com algumas marchas chegando a quase
um milhão de pessoas, mostra o claro avanço da luta pelos direitos
civis. Contra toda e qualquer violência e preconceito contra a
orientação sexual dos GLBTS. Pelo reconhecimento da união patrimonial de
pessoas do mesmo sexo e suas decorrências legais! Com estes princípios
defendidos por todo o partido, os movimentos dos GLBTS construirão
também o programa partidário sobre o tema.
20) A importância das tarefas democrático-políticas e a defesa das liberdades democráticas.
Os ataques do grande capital imperialista financeiro, sua busca por
enquadrar todo o continente em uma ofensiva econômico-militar e com
consequências jurídico-políticas como o da ALCA, fazem com que a defesa
das liberdades democráticas e da soberania política do país sejam
fundamentais para os socialistas.
O sufrágio universal é uma conquista. Combatemos o oportunismo
expresso na posição que apenas vê importância nas eleições, mas
combatemos também o sectarismo que despreza a importância das mesmas. As
eleições, portanto, podem ser utilizadas pelos socialistas para chegar
no povo trabalhador e contribuir no avanço de sua consciência e
politização.
Queremos uma verdadeira Constituinte, soberana, democrática, capaz de
reorganizar o país, instituir mudanças que tornem possível garantir
educação, saúde, moradia, alimentação, trabalho e dignidade para todo o
povo. Esta nova Constituição só pode ser resultado de um processo
profundamente democrático, onde os constituintes não sejam eleitos sob o
peso e a influência do poder econômico e da grande mídia. Tal bandeira
não está colocada para a atual conjuntura, mas deve ser parte do
programa de nosso partido conjuntamente com outras medidas democráticas.
Lutamos também por medidas democráticas radicais como a garantia de
uma Câmara única com mandatos revogáveis. É importante igualmente se
instituir e facilitar as decisões de temas nacionais relevantes por
plebiscitos e referendos. Também o poder judiciário necessita de uma
profunda reforma, mediante o fim da eleição dos juízes pelo presidente
da República e a revogabilidade dos mandatos dos magistrados, com o
recurso a participação popular nos julgamentos.
21) A luta da classe trabalhadora é internacional. Em defesa da solidariedade e da coordenação das lutas latino-americanas.
Defendemos a articulação política dos socialistas e
internacionalistas de todos países, o apoio às lutas e a busca constante
de uma coordenação das mesmas. Pela unidade dos trabalhadores e do povo
da América Latina. Pela federação das Repúblicas da América Latina!
Contra toda e qualquer intervenção imperialista na América Latina e no
mundo, seja na Colômbia, na Venezuela, no Iraque ou na Palestina. Contra
a vergonhosa intervenção do Brasil no Haiti, cumprindo o papel de
tropas auxiliares dos Estados Unidos.
Consideramos decisiva a construção de uma frente de ação, política e
social, que busque articular para a luta os movimentos e as forças
sociais antiimperialistas no nosso continente. Na luta contra o
imperialismo estamos pela mais ampla unidade de ação com todas as forças
que estejam dispostas a uma ação concreta contra o mesmo.